CAP. 4 – GUERREIROS E TRABALHADORES
GUERREIROS E TRABALHADORES
1. Sociedades “Primitivas” e Sociedades “Pré-Históricas”
Como as sociedades primitivas desconheciam a escrita, sua reconstrução é feita com base nos vestígios materiais deixados por elas. Para os arqueólogos que fazem esse trabalho, é importantíssimo o estudo das “sociedades primitivas”. Através delas tenta-se reconstruir, hipoteticamente, as sociedades humanas em seus primórdios, embora não devam ser tomadas como sobreviventes da Pré-História.
As sociedades primitivas são igualitárias. O chefe não tem poder, é dono apenas do prestígio decorrente de seu valor como guerreiro e de sua habilidade ao tratar de desentendimentos internos.
Não seria descabido supor que as sociedades paleolíticas e neolíticas pré-históricas fossem, a seu modo, igualitárias. Uma vez, que a desigualdade pressupõe a exploração do homem pelo homem. Para que ela tivesse se verificado, teria sido necessário, no mínimo, que uma economia produtora razoavelmente desenvolvida, estivesse já em funcionamento. Assim, é pouco provável que as sociedades Pré-históricas se caracterizassem pela desigualdade social.
2. A Guerra, o Trabalho e a Desigualdade Social
Se nas sociedades pré-históricas inexistiam a exploração econômica de um grupo social por outro, e por conseguinte inexistiam também a ambição por poder e riquezas, por que faziam a guerra? Porque elas eram extremamente vulneráveis aos ataques externos. Isso se aplica também às sociedades antigas (egípcia, grega, romana, etc.). A integridade física dessas sociedades era assegurada pela força militar.
A produção obtida pelo trabalho da comunidade era motivo de cobiça de outros povos. Por isso, o guerreiro era figura social de maior importância. Mas os homens não eram guerreiros em tempo integral, tinham que dedicar-se ao trabalho de produzir alimentos e eram mobilizados apenas em tempo de guerra. Somente os guerreiros que mostrassem destreza e bravura em combate eram dispensados do trabalho para dedicar-se à arte militar. Com o tempo, a divisão em guerreiros e trabalhadores cristalizou-se e transformou-se (lentamente) numa relação entre dominantes (guerreiros) e dominados (trabalhadores).
3. O Trabalho como Sinal de Inferioridade Social
A inferiorização de quem trabalha pode ser constatada por meio do estudo da origem da palavra trabalho, que veio do latim tripalium, nome de um instrumento de tortura. A palavra trabalho liga-se, em sua origem, à ideia de sacrifício, sofrimento e pobreza. Enquanto, a coragem e a bravura, eram cantadas como os mais altos valores (culto do herói). Portanto, a inferioridade de quem trabalhava estava relacionada à superioridade de quem tinha o ofício de guerrear.
4. Os Mecanismos de Dominação Social
À medida que, com a revolução neolítica, os homens também foram ingressando no mundo do trabalho, a oposição masculino/feminino foi substituída por esta outra: guerreiro/trabalhador. Nas primeiras sociedades em que a desigualdade social se tornou patente, a linha divisória foi sempre a que separava os nobres, que se definiam como guerreiros, e os trabalhadores. Já que a camada superior era composta de guerreiros, conclui-se que a origem e o fundamentos da desigualdade social se relacionam de algum modo com o uso da violência. Mas, para que uma sociedade baseada na desigualdade funcione, não basta apenas a violência. É necessário que essa desigualdade seja aceita pelos que se encontram nas bases da sociedade. A hipótese é que isso ocorreu por um duplo mecanismo:
- pelo reconhecimento da função social da camada superior e dominante como mais importante para todos;
- pela divinização do poder por meio da religião.
Surgiu assim, ao lado do guerreiro nobre, a figura do sacerdote.
BIBLIOGRAFIA:
- HISTÓRIA: origens, estruturas e processos
Autor: Luiz Koshiba
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