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RESUMOS E RESENHAS

Disciplina: Processos construtivos do raciocínio lógico-matemático

Por que Brincar e as Brincadeiras

Patrícia Cândido Diniz


           Observando as crianças, buscando formas de tornar mais significativa e prazerosa sua aprendizagem matemática, fomos nos convencendo da importância das brincadeiras e percebendo a possibilidade de as crianças desenvolverem muito mais do que noções matemáticas. Enquanto brinca, o aluno amplia sua capacidade corpora, sua consciência do outro, a percepção de si mesmo como ser social, a percepção do espaço que o cerca e de como pode explora-lo.
            Antigamente, a brincadeira estava garantida pelo espaço da casa, nas ruas, nos parques. Hoje as crianças vêm perdendo espaço, especialmente para brincar o coletivo. Além de que muitas crianças têm que trabalhar cada vez mais cedo ou realizar uma enorme quantidade de atividades extracurriculares.
            É cada vez mais frequente reclamações por parte dos professores sobre alunos que não conseguem se concentrar e são desinteressados. Temos pensado que alguns desses problemas podem diminuir se a escola, especialmente nas séries iniciais, assumir que as brincadeiras sejam realizadas com frequência pelos alunos.
            Quando brinca, a criança se defronta com desafios e problemas, devendo constantemente buscar soluções para as situações a ela colocadas.
            Acreditamos também que brincar é mais que uma atividade lúdica. Ao brincar a criança adquire hábitos e atitudes importantes para se convívio social e para seu crescimento intelectual e aprende a ser persistente. As brincadeiras exigem que as crianças percebam que fazem parte de um grupo que deve ser respeitado, que devem ter respeito às regras, que precisam cooperar e assumir suas responsabilidades.
            Brincar exige troca de pontos de vista, o que leva a criança a observar os acontecimentos sob várias perspectivas. A relação com o outro permite que haja um avanço maior na organização do pensamento.

As brincadeiras infantil nas aulas de matemática
            Desde a escola infantil, deve ser preocupação do professor o desenvolvimento do respeito pelas ideias de todos, a valorização e discussão do raciocínio, das soluções e dos questionamentos dos alunos. Isso gera elementos para a construção de uma comunidade social e intelectual na classe e coloca a necessidade muitas oportunidades para o trabalho em grupo.
            A ação pedagógica em matemática organizada pelo trabalho em grupos cria situações que favorecem o desenvolvimento da sociabilidade, possibilitando aprendizagens significativas.
            Há ainda dois outros fatores que nos levam a propor as brincadeiras como estratégias de trabalho em matemática, o reconhecimento de que atividades corporais podem se constituir numa forma para as crianças aprenderem noções e conceitos matemáticos e que as aulas de matemática devem servir para que os alunos de Educação Infantil ampliem suas competências pessoais, entre elas as corporais e as espaciais. A preocupação com a relação entre movimento corporal e aprendizagem é antiga e pode ser encontrada em muitos pesquisadores: Celestin Freinet, Henri Wallon e Jean Piaget.
            Freinet, na sua Pedagogia da Livre-Expressão, incluía os aspectos corporais nos seus trabalhos com alunos através das chamadas aulas-passeio. Na volta de cada passeio a classe trabalhava na discussão do que havia observado e produzia materiais.
            Wallon considerava que o pensamento da criança se constitui em paralelo à organização de seu esquema corporal e na criança pequena o pensamento só existe na interação de suas ações físicas com o ambiente.
            Piaget também apresentou uma análise da questão entre corpo e aprendizagem e estudou amplamente as inter-relações entre motricidade e a percepção. Ele realça a importância dos aspectos corporais na formação da imagem mental e na representação imagética.
            Para esses autores os movimentos comunicativos dos gestos, da postura e das expressões faciais são linguagens de sinais que as crianças aprendem a interpretar já nos primeiros anos de vida e que podem aprimorar com o passar do tempo, se não forem inibidas pelas imposições da linguagem oral.
            O próprio desenvolvimento da noção de espaço está envolvido em atividades que propiciem movimento para a criança. Isto porque o corpo é o primeiro espaço que a criança conhece e reconhece e as explorações do espaço externo a ela própria são primeiramente feitas a partir do corpo.
            Noções como proximidade, separação, vizinhança, continuidade, estão numa série de qualidades que se organizam numa relação de pares de oposição tais como: perto/longe; parte/todo; dentro/fora; pequeno/grande. A própria geometria pode ser vista como imagens que se percebem através dos movimentos.
            A criança organiza a relação corpo-espaço e a orientação dos objetos faz-se em função da posição atual do seu próprio corpo. Esta primeira estabilização perceptiva é o trampolim indispensável sem o qual a estruturação do espaço não pode efetuar-se.
            O corpo é o ponto em torno do qual se organiza o espaço.
            A imagem que a criança vai fazendo de seu próprio corpo é o resultado e a condição da existência de relações entre o individuo e seu meio. A criança faz a análise do espaço primeiro com seu corpo, antes de fazê-la com os olhos, para acabar por fazê-la com a mente.
            É preciso que as capacidades corporal-cinestésica e espacial sejam estimuladas e utilizadas pelas crianças para que elas possam conhecer e manifestar-se sobre o que conhecem. Desta forma, para as aulas de matemática a valorização das brincadeiras infantis significa a conquista de um forte aliado nos processos de construção e expressão do conhecimento e permite ao observador interpretar os avanços e as dificuldades de cada criança.
            Enquanto brinca, a criança pode iniciar a aprendizagem de conteúdos relacionados ao desenvolvimento do pensar aritmético.
            Brincar é uma oportunidade para perceber distâncias, velocidade, tempo, força, altura e fazer estimativas envolvendo todas essas grandezas.
            No entanto, o eixo de conteúdos que pode ser mais ricamente explorado no trabalho com as brincadeiras infantis é a geometria, que sempre estará presente nas atividades que requerem noções de posição no espaço, de direção e sentido, discriminação visual, memória visual e formas geométricas.

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