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REVOLUÇÃO FRANCESA


SUMÁRIO


1. INTRODUCÃO ............................................................................................ 03
2. REVOLUCÃO FRANCESA ...........................................................................04
    2.1. Os Estados Gerais .................................................................................05
    2.2. Assembléia Nacional Constituinte ..........................................................08
    2.3. Convenção .............................................................................................10
    2.4. Reação Termidoriana .............................................................................12
3. ABORDAGEM REVISIONISTA .....................................................................13
4. CONCLUSÃO ................................................................................................16
5. BIBLIOGRAFIA ..............................................................................................17







 INTRODUCÃO


            Há mais de dois séculos a Revolução Francesa desperta interesse por parte de pessoas das mais diferentes áreas do conhecimento, quanto ao caráter do movimento.
            Muitos historiadores acreditam que a Revolução Francesa fez parte de uma onda revolucionária, que começou nos Estados Unidos, em 1776, se alastrou pela Europa, atingindo a Inglaterra, Irlanda, Holanda, Bélgica, Itália, Alemanha, Suíça e, por fim, eclodiu na França em 1789.
            Embora, haja semelhanças entre esses movimentos, a Revolução Francesa teve identidade própria que se manifestou na participação popular, na ruptura radical com as instituições feudais do Antigo Regime e nas formas democráticas que assumiu.
            O presente trabalho tem por objetivo fazer uma breve explanação sobre o assunto. Concomitantemente, pretende apresentar algumas releituras do tema. Portanto, num primeiro momento, será  feita uma síntese da Revolução Francesa, e em seguida serão apresentadas algumas abordagens revisionistas.







 2. REVOLUCÃO FRANCESA


            Na época da revolução, a França era ainda um país agrário. De seus 25 milhões de habitantes, cerca de 20 milhões viviam no campo. Embora o capitalismo já tivesse começado a provocar mudanças em sua estrutura, sua organização ainda estava baseada em estamentos, `a semelhança da Idade Média. Mas, como efeito da penetração do capitalismo, já se percebia certa mobilidade social.
            O clero, com 120 mil religiosos, dividia-se em alto clero (bispos e abades com nível de nobreza) e baixo clero (padres e vigários de baixa condição); era o Primeiro Estado. A nobreza constituía o Segundo Estado. Com 350 mil membros, dividiam-se em três subgrupos. A nobreza palaciana vivia de pensões reais e usufruía cargos públicos; a nobreza provincial vivia no campo; e, a nobreza de toga, formada por pessoas oriundas da burguesia, que haviam comprado seus cargos e títulos de nobreza.
            O Terceiro Estado compreendia 98% da população. Era formado por pessoas de diferentes classes sociais. No topo, a alta burguesia era composta por banqueiros, financistas e grandes empresários. A média burguesia era formada por profissionais liberais, médicos, dentistas, professores, advogados e outros. Na pequena burguesia estavam os artesãos mais ricos, lojistas, pequenos comerciantes. A parte mais baixa era formada por artesãos, aprendizes, proletários e a população rural. Esta, por sua vez, constituía-se de camponeses livres e semilivres, e os servos (uns 4 milhões) ainda em condição feudal. No interior do Terceiro Estado existiam grupos sociais que lutavam entre si.
            O Terceiro Estado arcava com os impostos e contribuições para o rei, o clero e a nobreza. Os outros dois estados não pagavam tributos. Nessas condições, a principal reivindicação do Terceiro Estado era a abolição dos privilégios e a instauração da igualdade civil. Essas pretensões se chocavam com o absolutismo monárquico. Só os gastos da corte e da nobreza que vivia em Versalhes representavam 10% das despesas de toda a França, e este peso recaía sobre os ombros do povo. O déficit do orçamento era enorme. Na época da Revolução, a dívida externa chegava a 5 bilhões de libras, enquanto o dinheiro em circulação não passava de 2,5 bilhões de libras. Os filósofos iluministas denunciavam a situação em seus escritos. A burguesia também buscava conscientizar a população para obter seu apoio.

2.1. Os Estados Gerais

            A ruptura revolucionária iniciada em 1789 veio coroar a longa crise do Antigo Regime. Desde a morte de Luis XIV, em 1715, a opinião pública se modificou profundamente em relação ao regime político autoritário em vigor no país. O absolutismo baseado no direito divino dos reis, que já mostrava marcas de decadência desde o reinado de Luis XIV, passou a ser contestado. O mesmo aconteceu a uma hierarquia social que concedia honras e privilégios em função do nascimento e dividia de maneira discriminatória a população segundo ordens ou estados.
            Essa estrutura social rigidamente hierarquizada gerou uma grande desigualdade social. No decorrer do século XVIII, essa ordem mostrava-se insustentável: a economia e a vida intelectual eram impulsionadas cada vez mais pelos setores burgueses.
            A reavaliação das bases jurídicas e intelectuais do Antigo Regime foi possível, devido ao Iluminismo que forneceu elementos para a crítica das estruturas políticas e sociais do absolutismo e a proposta de uma ordem liberal burguesa.
            Portanto, as origens do movimento revolucionário de 1789 devem ser buscadas no conflito entre a estrutura oficial e os interesses estabelecidos no Antigo Regime e as força sociais ascendentes Em outras palavras, o individualismo sufocado por uma organização social coercitiva desenvolveu-se a partir do momento em que o terceiro estado rejeitou as ordens, as diferenças, as restrições e, ao mesmo tempo, incentivou a laicizacao, o acesso `a cultura e o reconhecimento de sua competência. Entretanto, parte da juventude aristocrata confraternizou com os intelectuais do terceiro estado nos salões, nas lojas maçônicas e nas academias, abandonando uma posição de superioridade firmada desde a Idade Média.
            As causas sociais da ruptura já foram apontadas: a recusa do Terceiro Estado em continuar a obedecer às regras de uma ordem excludente. Como fatores de ordem econômica, é possível diferenciar as causas financeiras e as econômicas propriamente ditas. As causas financeiras do movimento estão ligadas diretamente ao déficit público, ou seja, o governo gastava mais do que arrecadava, graças sobretudo à má administração e aos privilégios do clero e da nobreza. Somou-se a essa situação as despesas oriundas da Guerra da Independência dos Estados Unidos, conflito do qual a Franca participou como aliada da jovem nação contra a poderosa Inglaterra.
            As causas econômicas tinham caráter estrutural, isto é, estavam relacionadas com a maneira pela qual se produziam e distribuíam as riquezas do país. Nesse contexto, destacaram-se os tratados de comércio e navegação assinados entre França, Estados Unidos, Inglaterra, Suécia e outros paises. Os tratados tinham como objetivo o aumento do intercâmbio comercial por meio da diminuição das tarifas alfandegárias. Causaram uma grande insatisfação entre os industriais e comerciantes, que viam tais acordos como responsáveis pela queda da produção e do comércio dos produtos manufaturados franceses.
            A crise da produção manufatureira também esteve ligada ao sistema vigente de corporações, modelo produtivo que empregava o trabalho compulsório, bem como fixava a quantidade, a forma e as condições pelas quais as mercadorias deveriam ser produzidas. Tudo isso contribuía para agravar ainda mais a situação do setor, o que desagradava profundamente a burguesia empreendedora.
            Outro fator de ordem econômica foi a crise agrícola, originária, sobretudo, do aumento da população. Estima-se que, entre 1715 e 1789, a população da França tenha aumentado entre 8 e 9 milhões de pessoas. O aumento populacional trouxe consigo carência e carestia dos alimentos. A carência ocorreu porque a produção de cereais passou a ser insuficiente para alimentar a população. Tal fato acabou promovendo a carestia dos produtos agrícolas e o país passou a conviver com o fantasma da fome.
            Além dos problemas econômicos e financeiros, o país enfrentava problemas políticos. Entre os oponentes do governo, que contestavam a forma do regime e a organização do poder, merecem destaque os que atuavam nas instituições do próprio Estado, os servidores do Parlamento.
            Na França absolutista, o Poder Legislativo pertencia ao rei, fonte de todos os poderes do Estado, mas o Parlamento tinha o privilégio de reconhecer, julgar ou vetar as leis. Esse órgão funcionava como corte superior de justiça. Era constituído por magistrados, nobres ou enobrecidos, proprietários de seus cargos, que se opuseram aos esforços da monarquia para reparar os abusos e introduzir modernizações que, talvez, dessem ao regime os meios de sobreviver.
            A crise estourou em 1787, quando o ministério propôs uma reforma fiscal que, além de impor a igualdade dos impostos, submetia todos os proprietários, nobres ou plebeus, ao pagamento de uma “subvenção territorial”. Alegando a defesa da “bolsa do povo”, mas, na verdade, buscando salvaguardar suas isenções, o Parlamento recusou-se a reconhecer os decretos fiscais. Como justificativa, declarou que só a  nação, representada pelos Estados Gerais (assembléia com representantes das três ordens, que não se reunia desde 1614) poderia decidir sobre a criação de novos impostos.
            Para fazer valer sua reforma tributária, Luis XVI recorreu a um “leito de justiça”. Esta cerimônia, uma das mais importantes do Estado francês desde a Idade Média, era uma espécie de “guerra de rituais” travada no Parlamento de Paris. Numa sessão especial, cercado por um aparato ameaçador, o rei reafirmava seu poder absoluto, mobilizando toda a complexidade do cerimonial para rebaixar e coagir os magistrados.
            A tentativa de coação, entretanto, fracassou. Indignado com o ato real, o Parlamento exilou-se. Necessitado de dinheiro a qualquer preço, o Ministério trocou algumas concessões pela volta dos magistrados.
            Sem condições de efetuar a reforma fiscal, o rei pediu empréstimo destinado a corrigir a situação de déficit do Estado. Mais uma vez o Parlamento negou, considerando o pedido ilegal. Por sua vez, Luis XVI declarava: “E legal porque eu quero”. Era o início de uma guerra entre os poderes, pondo em risco o funcionamento do próprio Estado.
            Em 1788, o rei reduziu o número de parlamentares, limitou suas atribuições e criou uma Assembléia política e judiciária. Os parlamentares rebelados exigiram a convocação imediata dos Estados Gerais e a duplicação do número de representantes do Terceiro Estado. Mesmo com a duplicação, as camadas populares não estavam devidamente representadas.
            O processo eleitoral compreendia duas fases. Na primeira, as eleições primárias, os eleitores votavam naqueles que, numa segunda fase, escolheriam os deputados. Só podia participar da eleição primária quem tivesse emprego público, grau universitário, um ofício ou fosse mestre de corporação. Com isso, a plebe estava excluída.
            Devido à crise generalizada, a campanha eleitoral e as eleições, realizadas entre janeiro e abril de 1789, ocorreram num clima tenso. A maioria dos deputados eleitos representava a alta burguesia, funcionários, advogados e comerciantes, levando a massa a ir as ruas protestar contra o desprezo aos eleitores.

2.2. Assembléia Nacional Constituinte

            Logo que se reuniram em Versalhes, em 1789, iniciaram os conflitos entre as três ordens sobre o sistema de votação. A nobreza contava com 300 membros representantes, o clero com outros 300 e o Terceiro Estado, com 600. Enquanto o clero e a nobreza exigiam o voto por ordem, o Terceiro Estado exigia o voto por cabeça. Foi a primeira vitória popular: apoiado por dissidentes das outras ordens, e especialmente pelo baixo clero, o Terceiro Estado fez valer sua posição. Em junho, essa nova maioria se reuniu em separado no “Salão da Pela” e jurou permanecer unida ate dar a França uma constituição. Diante das manifestações dos parisienses em apoio a essa atitude, o rei viu-se obrigado a convidar o clero e a nobreza a se unirem aos representantes do povo. Desse modo, em 9 de julho de 1789, os Estados Gerais se transformaram numa Assembléia Nacional Constituinte.
            Isto, levou o rei a demitir o ministro Jacques Necker, conhecido por suas posições reformistas. Ao saberem do afastamento do ministro, as camadas populares passaram a controlar as ruas da capital. Em 14 de julho de 1789, o povo tomou a Bastilha, prisão símbolo do regime absolutista, e libertou os presos que ali se encontravam. A tomada da Bastilha foi um marco decisivo para o movimento revolucionário, pois forçou o monarca a reconhecer o poder dos deputados constituintes, que retornaram imediatamente seus trabalhos, que se estenderam até 1791.
            As agitações revolucionárias parisienses espalharam-se pelo campo. Os camponeses começaram a invadir os castelos da aristocracia e, em muitos, mataram os proprietários, reivindicando o fim da servidão e dos direitos feudais. Concomitantemente, corriam boatos de que os nobres estavam preparando uma vingança terrível contra os camponeses. Essas notícias levaram a uma onda de pânico pelo país, entre fins de julho e início de agosto de 1789, que ficou conhecida como Grande Medo (La Grande Peur).
            Entre as medidas aprovadas pela Assembléia estavam a abolição gradual dos direitos feudais, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e o confisco das terras da Igreja. Em 1790, foi adotada a Constituição Civil do Clero, tentativa de subordinar a Igreja Católica ao Estado. De modo geral, as medidas golpeavam os privilégios da nobreza e do clero, mas não o trono. A proposta de limitação do poder real através dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário) era uma tentativa de conciliar a instituição real do passado com as aspirações de modernização política da Franca.
            A Constituição de 1791estabeleceu que todos eram iguais perante a lei. Todavia, alguns eram mais iguais do que outros, pois o texto estabeleceu o sufrágio censitário, excluindo a maioria da população. Portanto, a Constituição de 1791, foi o reflexo das aspirações de uma burguesia moderada que tomou a seu cargo a administração dos departamentos e municípios franceses.
            Entretanto, a revolução não havia terminado. Os setores populares urbanos queriam avançar com o processo revolucionário. Além disso, muitos nobres que haviam se refugiado no exterior, contando com o apoio de Estados absolutistas como a Áustria e a Prússia, se organizavam para atacar a França e acabar com as conquistas da revolução.
            Em junho de 1791, a família real tentou fugir, mas foi presa em Varennes, o que agravou a situação. Passando por uma grave crise econômica mais a ameaça externa contribuiu para que setores radicais do Legislativo ganhassem espaço. Em abril de 1792, a Assembléia declarou guerra à Áustria e a Prússia. Com o avanço das tropas estrangeiras em direção a Paris,a ala radical declarou a “pátria em perigo” e distribuiu armas à população. O controle da capital passou a Comuna de Paris, que exigiu o afastamento do rei. Como não foram atendidos, em 10 de agosto atacaram o palácio real e detiveram o soberano. Esvaziada de seu poder, a Assembléia convocou a eleição de uma Convenção Nacional.


2.3. Convenção

            Em 20 de setembro o exército popular derrotou as tropas estrangeiras na Batalha de Valmy. Como havia suspeitas de que o rei houvesse colaborado com o exército estrangeiro, Luis XVI foi declarado inimigo da revolução. No mesmo dia, a Convenção Nacional iniciou seu governo, declarando o fim da monarquia e proclamando a República.
            Entre os grupos políticos que participavam da Assembléia Constituinte destacam-se o Clube dos Jacobinos e o Clube dos Cordeliers, que eram chamados de grupos de esquerda, pois se sentavam à esquerda no plenário; entre os grupos de direita, sentados à direita no plenário, destaca-se os girondinos; e os do centro, estava aplanície, assim denominada por ocupar os lugares mais baixos do plenário. Os grupos de esquerda defendiam mudanças radicais. O Clube dos Jacobinos era liderado por Maximilien de Rebespierre, e o Clube dos Cordeliers contavam com a presença de Georges Danton e Jean-Paul Marat. Já os girondinos, formado em sua maioria pela alta burguesia, defendiam mudanças moderadas e graduais. O grupo do centro não tinha posições políticas bem definidas, normalmente apoiavam o grupo mais forte.
            A proclamação da República marcou o Ano I do novo calendário francês, bem como uma nova fase da Revolução. O poder foi exercido pela Convenção nacional, estabelecida em setembro de 1792. Coube-lhe elaborar uma nova Constituição, julgar e executar o rei Luís XVI e traçar estratégias para enfrentar as coligações estrangeiras.
            De início, a hegemonia na Convenção coube aos girondinos, grupo de direita interessada em conter o avanço das massas. Mas foi por pouco tempo. Após a morte de Luís XVI, novas coligações formaram-se na Europa. Além disso, a contra-revolução ganhava força no próprio país. Para enfrentar a ameaça interna, a Convenção criou em abril o Comitê da Salvação Pública, mas os sans-cullotes foram mais longe: reivindicaram a democracia direta. A mobilização na capital resultou na expulsão de alguns líderes girondinos da Convenção e favoreceu a ascensão dos jacobinos. Maximilien Robespierre, Louis de Saint-Just, Marat, Danton e Hebert assumiram o poder.
            O Ano II iniciou-se com a República Jacobina e uma Constituição mais radical e democrática do que a anterior. O novo governo suprimiu os direitos feudais que restavam, facilitando a aquisição de terras pelo pequeno produtor, tabelou gêneros de primeira necessidade, fixou salários e instituiu a escola primária pública, obrigatória e gratuita. Alem disso, foram estabelecidos o sufrágio universal (mas apenas para homens), o direito de greve e o direito a subsistência. As mulheres alcançaram maior participação na vida pública, mas no momento de maior impulso revolucionário, entre 1792 e 1794, foram novamente relegadas ao papel de mães e donas-de-casa.
            O principal líder do governo revolucionário foi Robespierre. Ele assumiu um Estado à beira do colapso – em guerra com tropas estrangeiras, revoltas internas e uma enorme crise financeira e social.
            Para enfrentar a crise, os jacobinos estabeleceram um regime sem base constitucional, que se tornou conhecido como Terror. Nesse período, o Comitê da Salvação Pública exerceu o poder de maneira implacável.
            O regime implantado por Robespierre se alicerçou numa aliança entre os grupos intermediários e as massas trabalhadoras. Mas essa frágil sustentação não demorou a ruir. De um lado, Hebert e outros líderes sans-culottes queriam manter as massas populares da capital como um autor político autônomo. De outro lado, temendo o confisco de seus bens e desejosa de liberdade nos negócios, a alta burguesia iniciou uma campanha pela anistia geral, conduzida na Convenção por líderes como Danton e Desmoulins.
            Robespierre golpeou primeiro a extrema esquerda, mandando guilhotinar Hebert. A partir daí, as massas populares afastaram-se dele. Em seguida, prendeu Danton e Desmoulins, que foram julgados e guilhotinados. Dessa forma, deu brecha para que todos os que se sentissem ameaçados pelo líder jacobino se unissem. Em julho de 1794, o mês Termidor no calendário republicano, Robespierre e Saint-Just foram presos e executados.

2.4. Reação Termidoriana

            Conhecido como Reação Termidoriana, o golpe de Estado marcou o fim da participação popular no movimento revolucionário. A alta burguesia voltou ao poder. O novo governo, denominado Diretório (1795-1799), autoritário e fundamentado numa aliança com o exército, tratou de elaborar uma nova Constituição que afastasse a dupla ameaça: a República Democrática Jacobina e o Antigo Regime.
            Mesmo assim, em 1796, a burguesia republicana teve que enfrentar uma revolta dos igualitaristas radicais e dos jacobinos ressurgentes. Liderados por Graco Babeuf esse movimento ficou conhecido como Conspiração dos Iguais. A revolta foi esmagada pelo Diretório, que decretou a pena de morte contra todos os participantes da conspiração.
            Além dos problemas internos, o Diretório teve que enfrentar ameaças das tropas estrangeiras. Nessas campanhas, destacou-se a figura de Napoleão Bonaparte, um oficial do exército francês que com apenas 25 anos de idade já era general e herói nacional. O sucesso alcançado por Napoleão colocou-o a frente do Estado francês, quando em 9 de novembro de 1799 – 18 Brumário pelo calendário republicano – um golpe de Estado entregou o poder a três cônsules: Bonaparte, Sieyés e Roger Ducos.
            Cinco anos mais tarde, em 1804, Napoleão Bonaparte tornar-se-ia Imperador da França.











 3. ABORDAGEM REVISIONISTA

            O presente trabalho fez uma breve exposição sobre a Revolução Francesa. Uma revolução que abalou os alicerces da sociedade moderna e marcou o fim do feudalismo.
            Como outros fatos históricos, é possível encontrar dados em qualquer livro didático de História, bem como em trabalhos científicos, pois este tema desperta o interesse dos mais diferentes autores.
            Entretanto, chama-nos a atenção o trabalho desenvolvido por T. C. W. Blanning em seu livro “Aristocratas Versus Burgueses? A Revolução Francesa” (1991), em que faz uma reflexão sobre as propostas marxistas e as revisionistas   referentes às origens, o caráter e as conseqüências da Revolução Francesa.
            Segundo Blanning, uma das questões refere-se aos revisionistas questionarem o fato de que as transformações econômicas tenham intensificado o conflito de classes entre a nobreza e a burguesia, pois de acordo com eles “...A expansão da empresa capitalista não foi conquista exclusiva da burguesia; ao contrário, muitos dos empresários mais progressistas eram nobres. A maioria dos burgueses se mostrava positivamente tímida... Longe de procurar combater os nobres, o mais intenso desejo do bourgeois gentilhomme era o de se juntar a eles...” (1991,p. 9). Portanto, segundo os revisionistas a “reação aristocrática” na realidade não existiu.
            O autor também analisou a relação entre Iluminismo e Revolução Francesa. Segundo os marxistas, o Iluminismo é um estágio historicamente importante no desenvolvimento do pensamento burguês ocidental, sendo as idéias centrais do Iluminismo identificadas como correspondentes às características essenciais da economia de mercado que produziram a burguesia.
            De acordo com Blanning, é preciso analisar alguns pontos. Por exemplo, os antecedentes dos filósofos. E lógico, que as origens de uma pessoa não determina seus pensamentos, mas ajuda a esclarecer. Examinando as origens dos iluministas verificaremos que a maioria deles pertencia à nobreza e a maioria dos princípios iluministas foi absorvida pela alta sociedade do Antigo Regime.
            Além disso, as pessoas que mais liam a “Enciclopédia”  eram as elites tradicionais e não os setores economicamente progressistas da sociedade francesa.
            Da mesma forma, não se pode afirmar que o Iluminismo era contrário ao Antigo Regime como um todo, pois não foi apresentado nenhum programa claro de transformação política hostil ao Antigo Regime.
            O autor ainda afirma que “o Iluminismo francês foi um movimento das elites letradas para as elites letradas. Tirante a eterna exceção de Rousseau, seus representantes mais influentes não acreditavam que o esclarecimento das massas fosse possível ou desejável.”
            Portanto, os filósofos não atacavam o Antigo Regime em sua essência, mas sim o despotismo dele decorrente, o governo autoridade arbitrária e não limitada pela lei.
            Na época da Revolução era consenso geral a necessidade de reformas profundas no sistema vigente. Tanto a nobreza quanto o Terceiro Estado desejavam a mesma solução para os problemas do país: uma transformação moderada e pacífica rumo a uma monarquia constitucional modernizada, em mútuo benefício.
            As palavras liberais dos nobres eram acompanhadas de ação. Poucos sabem o papel desempenhado pelos nobres no colapso da última linha de defesa do monarca: o exército. À frente da rebelião do exército estavam vários nobres que eram seus oficiais.
            Para Blanning, o que tornou a Revolução tão radical e violenta foi a erupção das massas à cena nacional. Embora seus agravos fossem de natureza social e econômica, os efeitos teriam conseqüências profundas na política do país. A mais importante causa isolada da crise socioeconômica do Antigo Regime foi a pressão da população. Esta, tinha crescido muito durante o século XVIII e a economia não acompanhou o crescimento populacional gerando a pauperização, a deteriorização do padrão de vida, os baixos salários e o desemprego. A crise agrícola de 1788, foi o estopim que elevou a temperatura da população mais carente e a mais numerosa.
            Portanto, para Blanning, se as massas não tivessem se rebelado e o rei tivesse conseguido o apoio do exército, o monarca teria conseguido se manter. Poderia ter feito as reformas da forma que todos ansiavam, tranqüila e pacífica. Foram as massas que mudaram os rumos da Revolução.
            Quanto às conseqüências, a partir da leitura de Blanning fica-se com a sensação de que pouco mudou em termos políticos e econômicos para a França. Mas, é indiscutível o impacto sobre o pensamento político e a reflexão sobre a sociedade para as futuras gerações do mundo inteiro.













 4. CONCLUSAO


            Embora, a Revolução Francesa tenha ocorrido em data e local específico, sabe-se que serviu de parâmetro para outras reivindicações, para outras revoluções. Ainda não conquistamos o ideal almejado durante seu desenrolar, mas continuamos tentando. Outras revoltas estão em andamento, agora, em distintos lugares do planeta; ou melhor, onde exista injustiça e desigualdade social haverá organizações para denuncia-las.
            Por isso e por todos os significados que assumiu, a Revolução Francesa é um tema atual que merece estar na pauta das discussões de qualquer campo das humanidades.











 5. BIBLIOGRAFIA


BLANNING. T. W. Aristocrata versus Burgueses? A Revolução Francesa. 1ª ed. Editora Princípios. 1991.
JOBSON, J. Toda História  2ª ed. Editora Ática. 2001.


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