Quando ministrava aulas para o Ensino Fundamental e Médio, ficava surpresa em perceber que a maioria dos alunos supervalorizava tudo que era importado, roupas, tênis, música, tecnologia... E por incrível que pareça, essa atitude se estendia em relação ao intelecto. Para eles, os homens estrangeiros também eram mais inteligentes que os daqui. Mas, não se referia a qualquer nacionalidade. Não, era direcionado. Os latinos, por exemplo, não eram levados em conta. Não sei se por determinismo geográfico ou genético, consideravam os alemães, japoneses e estadunidenses mais inteligentes que os brasileiros.
Eu, nacionalista ferrenha, adepta de “o melhor lugar do mundo é aqui e agora”, não me conformava com essa visão e tentava durante a aula falar dos vários gênios que temos aqui e de suas criações nos diversos campos do conhecimento como a música, o teatro, as ciências, enfim, da nossa história e cultura. Entretanto, não se tratava de algo planejado, elaborado. Era uma conversa com os alunos.
Em 2007, resolvi que durante a feira de Ciências, cada grupo, de cada sala em que eu dava aula apresentaria a vida e a obra de um gênio brasileiro. Infelizmente, por problemas de saúde (vocais), não pude continuar ministrando aula e meu projeto não foi para frente.
No entanto, até hoje, quando converso com adolescentes, e minha casa vive cheia de adolescentes, quando surge a questão, eu saio em defesa de nossos “intelectuais”.
Porém, tenho que fazer uma ressalva: estou falando de adolescentes, mas existe uma gama imensa de adultos que pensam da mesma forma.
É nesse contexto que resolvi apresentar aqui, a cada semana, um pouquinho da vida e obra de algumas dessas pessoas geniais que fazem parte da nossa história e deixar claro que criatividade não tem nacionalidade e que conhecimento não se faz por si, se constrói a partir de informações vindas de diversos lugares e tempos.
Então, mãos à obra. Hoje, gostaria de apresentar para vocês um pouquinho da vida e obra de um grande cientista chamado César Lattes. Não o escolhi por ser melhor que os demais. Mas, porque quase a totalidade das pessoas, especialmente os adolescentes, considera Einstein o maior gênio que o mundo já teve. E, quando se fala em alemães dois nomes surgem imediatamente: Einstein e Hitler (que não era alemão). Por isso, escolhi o nome de César Lattes, por estar no mesmo campo de conhecimento. Vou apenas colocar os leitores a par de algumas de suas descobertas, se houver interesse, deixou ao final sites confiáveis que possuem quase tudo que se possa saber sobre ele.
GÊNIOS BRASILEIROS - CÉSAR LATTES
Seu nome era Cesare Mansueto Giulio Lattes, nasceu em 11 de julho de 1924, em Curitiba/PR e faleceu em 8 de março de 2005 em Campinas/SP. Casou-se com D. Martha Siqueira Neto com quem teve quatro filhas. Fez o estudo primário e secundário (Ensino Médio) no Brasil. Ingressou no Departamento de Física da Faculdade de Filosofia e Ciências e Letras da USP. Sua tese sobre a “Abundância de núcleos no universo”, sob orientação de Gleb Wataghin inaugurou sua carreira científica. Foi Professor Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, o qual criou, e da Universidade Estadual de Campinas. Foi o criador do Departamento de Raios Cósmicos e Cronologia do Instituto de Física da Unicamp.
Ele é considerado uma dos maiores cientistas brasileiros devido às suas descobertas em relação ao méson pi, que é uma partícula subatômica sem a qual a matéria não poderia existir. Embora, não tenha recebido o prêmio pela descoberta, ele estava por trás da pesquisa. Da mesma forma, quando descobriu uma forma de reproduzir o méson pi artificialmente, quem levou o prêmio foi o americano Cecil Powell que, embora não tenha participado diretamente da pesquisa, era chefe de Lattes e levou o mérito. Mas, como que por providência divina, segundo Daniel Azevedo em um artigo para a revista “Superinteressante”, por ocasião da morte de César Lattes declara o seguinte:
Desde a morte da esposa, há dois anos, Lattes saía pouco de sua casa em Campinas, interior de São Paulo. Foi lá que recebeu o repórter Daniel Azevedo, colaborador de um jornal científico de São Carlos, para aquela que seria sua última entrevista, no final de fevereiro. O físico morreu de parada cardíaca no dia 8 de março, aos 80 anos.
Sem exagero, os obituários o descreveram como o mais importante físico brasileiro de todos os tempos. Além da descoberta e criação artificial do méson pi, ele ajudou a criar o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O merecido Nobel acabou vindo postumamente, na forma de um erro de imprensa: ao anunciar a morte de Lattes, a agência de notícias Associated Press (AP) o descreveu como “físico ganhador de um Prêmio Nobel”.(AZEVEDO, 2005)
César Lattes foi um homem otimista, espirituoso e crítico. Criticou entre outras coisas a teoria do big-bang e, imaginem, Einstein. Para ele, os mais importantes físicos modernos foram Niels Boher e Ernst Rutherford. Segundo documento pesquisado por Cássio Leite Vieira e Antônio Augusto Passos Videira, Lattes, aos 72 anos, declarava gostar de música (folclórica, clássica), de Gilberto Gil, Roberto Carlos e Vivaldi. Gostava de livros de História, de geografia, e de romances.
Há muito mais para se conhecer sobre a vida de Lattes que está disponível nos sites abaixo. Por agora, quis somente instigar a curiosidade de vocês. Vou finalizar este artigo com as palavras deste grande homem, retirada do artigo pesquisado por Cássio Leite e Antônio Augusto, já citado:
Que conselhos o senhor daria para um jovem físico começando a carreira?
Cuidado com o que está na moda. Ele deve lembrar que a parte empírica e o que fica na ciência. E gostaria de dar um conselho que não é meu, mas de Wataghin: qualquer dúvida vá a biblioteca e consulte os artigos originais. Se não for suficiente, procure os colegas mais experientes. Se nada disso resolver, meta as caras.
O senhor tem alguma filosofia pessoal que o teria orientado ao longo da existência?
Sou um otimista. E aprecio a natureza. Gosto de uma frase que diz: "ciência sem consciência é a ruína da alma". Tem um outra, que é de Salomão: "não busque ser sábio demais nem justo demais. Você quer se arruinar?"
Mais alguma frase que o senhor gostaria de citar?
Outra do Salomão: "A sabedoria não entra de modo algum na alma malvada". E aí está a diferença entre sabedoria e ciência. A sabedoria não entra, mas a ciência, sim.
Referências Bibliográficas:
GÊNIOS BRASILEIROS - CARLOS CHAGAS
Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas (1878-1934)
Carlos Chagas, como ficou conhecido, foi um biólogo, médico sanitarista, cientista e bacteriologista, que trabalhou como médico e pesquisador. Nasceu na cidade de Oliveira, em Minas Gerais. Aos oito anos, já estava alfabetizado. Foi, então, matriculado no Colégio São Luís, em Itu, São Paulo, de onde fugiu. como castigo foi expulso, sendo, então, matriculado no Colégio São Francisco, em São João Del Rei, em Minas Gerais. Após o Colégio, ingressou na Escola de Minas de Ouro Preto para fazer um curso preparatório para Engenharia, como sua mãe queria. Entretanto, lá, aderiu à vida boêmia e acabou ficando doente, sendo reprovado nos exames.
No período de recuperação convenceu sua mãe a deixá-lo cursar Medicina. Foi para São Paulo para obter os estudos necessários para ingressar no curso de Medicina.
Formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, hoje UFRJ, ele descobriu o protozoário Trypanossoma cruzi e a tripanossomíase americana, conhecida como doença de Chagas. Ele foi o primeiro e o único cientista na história da medicina a descrever completamente uma doença infecciosa: o patógeno, o vetor, os hospedeiros, as manifestações clínicas e a epidemiologia. Estudou também a leptospirose e várias doenças venéreas.
Teve quatro indicações ao Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, em 1921. Ele foi o primeiro brasileiro a obter o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e da Universidade de Paris. Foi membro honorário da Academia Brasileira de Medicina. Recebeu diversos prêmios de países do mundo inteiro durante sua vida.
FONTE BIBLIOGRÁFICA
https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Chagas
https://www.icc.fiocruz.br/carlos-chagas-3/
GÊNIOS BRASILEIROS - CARLOS PAZ DE ARAÚJO
Carlos Paz de Araújo nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte. É professor na Universidade de Colorado e sócio na empresa Symetrix, onde desenvolveu e licenciou a FeRAM (memórias de acesso aleatório ferroelétricas), que são memórias não voláteis, presentes smartphones, processadores eletrônicos, em eletrodomésticos, automóveis, cartões magnéticos com chips, etc. Sua tecnologia foi licenciada para várias empresas como Panasonic, Sharp, Siemens, Sony, etc.
Estudou sozinho durante anos as memórias resistivas e o resultado foi a memória CeRAM (correlated electrons ram), que deve substituir as ferroelétricas, sendo candidata a memórias universais. A CeRAM foi desenvolvida na Symetrix e já está sendo testada por grandes empresas. Em 2006, recebeu o prêmio Daniel E. Noble da IEEE, por meio do qual a maior associação profissional do mundo, contempla os destaques em tecnologias emergentes
Fonte: https://revistapesquisa.fapesp.br/carlos-paz-de-araujo-o-futuro-do-futuro
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