UM BREVE OLHAR SOBRE A MULHER, FILHOS E EDUCAÇÃO
Graça Ribeiro
Neste artigo pretendo apresentar uma breve análise da trajetória da mulher desde o primórdio dos tempos aos dias atuais, destacando seu papel no trabalho e no seio familiar.
Durante o período denominado Paleolítico os homens viviam em bandos. Para esclarecer o Paleolítico, é o período da pré-história que vai de aproximadamente 2,5 milhões de anos atrás até aproximadamente há 20.000 mil anos. Neste período, os homens eram coletores e caçadores, não sabiam plantar, nem domesticar animais. As mulheres ficavam incumbidas da coleta e os homens dedicavam-se a caça. Mas, já era a mulher a encarregada de cuidar dos filhos. Por esta época, eles cultuavam como deusa à estátua de uma mulher: a Deusa-Mãe associada à fertilidade.
Há cerca de 20.000 anos inicia-se o período denominado de Neolítico que se estende até, aproximadamente, 6.000 anos atrás. Neste período, segundo o historiador Luiz Koshiba (2000, p. 26), "foi graças ao trabalho feminino que se revolucionou a existência humana", ao conseguir produzir a própria alimentação. No entanto, as funções femininas continuaram as mesmas: cuidar da agricultura e dos filhos.
As comunidades primitivas se desenvolveram, tornando-se mais complexas, mas poucas mudanças ocorreram quanto à posição ocupada pela mulher nesta sociedade. A mulher era criada desde pequena para cuidar dos serviços domésticos e educar os filhos.
Se observarmos as mudanças ocorridas com os meninos entre os séculos XVI e XVII, quando este começa a ser visto como criança, notaremos que o mesmo não acontece com as meninas que continuará, por muito tempo, sendo vista como adulta, como Ariès (1981, p. 41) nos chama a atenção dizendo que [...] O sentimento da infância beneficiou primeiro meninos, enquanto as meninas persistiram mais tempo no modo de vida tradicional que as confundia com os adultos [...].
No século XIX, a mulher alcançará algumas conquistas, mas as grandes mudanças virão no século XX.
Até 1950, a mulher continua sendo criada para ser uma boa esposa e mãe. Entretanto, o desenvolvimento do capitalismo provocará mudanças que irão alterar completamente o papel feminino no mundo contemporâneo.
A expansão capitalista provocou guerras, conflitos e disputas durante todo o século XX. Entre estes vale ressaltar o fenômeno denominado de “Guerra Fria”, que consistia numa tensão constante entre países socialistas liderados pela antiga União Soviética, e países capitalistas liderados pelos Estados Unidos. A disputa entre esses dois blocos impulsionou o desenvolvimento tecnológico e científico. A informática e a robótica deram um grande salto.
Esse desenvolvimento tecnológico e científico produziu grandes alterações no mercado de trabalho, levando ao aumento do desemprego em âmbito mundial. Ao mesmo tempo, a especialização do trabalho provocou a exploração ainda maior de trabalhadores sem especialização que tiveram grandes perdas salariais.
Esses fatores, associados a uma mudança de mentalidade que vinha ocorrendo desde o século XIX, levaram a mulher a disputar com o homem o mercado de trabalho.
Este fator provocou profundas transformações no ambiente familiar. A mulher, que até este momento dedicava-se a cuidar da casa e dos filhos, assume mais uma função: ela passa a dividir com o marido o sustento da casa.
Nesse contexto, a mulher teve que se ausentar da casa para poder trabalhar fora. Entretanto, continua sendo cobrada pela educação dos filhos. Dessa forma, ela acumulou funções e não está conseguindo dar conta de todas.
Segundo Tiba (2002, p.36),
O mundo mudou. Existem casais experimentando novos arranjos familiares. Mas a velha divisão de papéis insiste em se manter: o pai trabalha e por isso não precisa participar da educação das crianças, que é responsabilidade da mãe. Mesmo que a mãe trabalhe fora, ainda resiste em abandonar o que fez durante tanto tempo...
O que está ocorrendo é que a mulher passou a delegar a outros a tarefa de educação dos filhos: ou a babá assume a função de mãe, ou transfere-se a responsabilidade para a escola.
É comum vermos professores reclamando de que estão assumindo funções para as quais eles não estavam preparados. E realmente, muitas vezes o professor vê-se obrigado a assumir o papel de mãe ou pai, pois o aluno está necessitando de apoio em questões que não são específicas da escola ou do professor.
A babá, por seu lado, muitas vezes não tem permissão para impor limites à criança, ou ainda, prefere fazer o gosto da criança para que ela não chore.
Por outro lado, a mãe também se sente culpada por estar ausente. Dessa forma, tenta compensar sua ausência através da permissividade. Na visão materna, não se deve contrariar o filho, pois ele pode ficar traumatizado, pois ele já se sente tão abandonado, que qualquer contrariedade pode aumentar sua dor. Assim, temos na escola crianças sem limites e sem disciplina.
Ausência física não se compensa com presentes nem com permissividade. As faltas dos pais sofridas pelos filhos não podem ser negadas, mas nem por isso a educação deve ser posta de lado. O que tem atrapalhado bastante a educação dos filhos é a tentativa de os pais compensarem suas ausências através de hipersolicitude para atender os desejos mais inadequados, colocando os filhos como cobradores dos seus sentimentos de culpa. (TIBA, 2006, p. 87- 88).
Nesse jogo de empurra-empurra, a criança sai prejudicada.
A verdade é que as últimas décadas foram um período de grandes transformações, para as quais nenhuma das instituições estava preparada, nem a família, nem a escola. Portanto, será necessária uma reorganização de ambas para que o processo educacional ocorra de forma a promover a aprendizagem do aluno.
Este artigo é de Graça Ribeiro, extraído do seguinte link:
Trata-se de um tema atual, que está aberto para comentários e sugestões.
SOCIEDADE DE CONSUMO: INDÚSTRIA DE MASSA E CULTURA DE MASSA
Autor:
mgrr
A sociedade que vivenciamos hoje tem como uma de suas principais características o consumismo. Consumir, ainda que não se tenha necessidade, é uma constante no mundo atual. É nesse cenário que surgem os fenômenos denominados de Indústria de Massa e Cultura de Massa, cujos conceitos serão aqui explanado.
Por Indústria de Massa entende-se a somatória de empresas e instituições que têm como principal atividade econômica a produção de cultura com fins lucrativos. Neste universo pode-se incluir o jornal, a revista, o rádio, a TV, ou qualquer outro meio que produza cultura com objetivo de obter lucro. Para tanto, faz-se necessário que esta produção atinja um grande número de pessoas para que o volume financeiro captado seja compensador. É nessa perspectiva que a cultura de massa faz sentido.
Antes de prosseguirmos temos que esclarecer alguns termos dentro de seu contexto histórico. Num primeiro momento precisamos distinguir que cultura de massa não é o mesmo que cultura popular.
Por cultura popular entende-se o conjunto das tradições, costumes, crenças, princípios, enfim, é o modo de viver de um determinado povo. De acordo com Fidelis:
... a cultura popular tem suas raízes nas tradições, nos princípios, nos costumes, no modo de ser daquele povo. Desta forma, cada povo produz, por exemplo, uma arte peculiar, reflexo de suas específicas qualidades necessariamente diversa das artes de outros povos. (FIDELIS, 2008, p.1)
Ao contrário, quando vemos a definição de cultura de massa, segundo Bosi, a diferença é nítida: “A cultura de massa, diferentemente do folclore, não tem raízes na vivência cotidiana do homem da rua, ela produz moda”.(BOSI, 2008, p. 95)
Na cultura de massa os modismos, sejam eles referentes à música, roupas, sapatos, cortes de cabelo, modo de andar, etc, são ditados pelos meios de comunicação, igualando os “gostos” no oriente e ocidente, uma “massa” só, sem atitude crítica frente ao que vai sendo oferecido e, pior ainda, consumido.
Alfredo Bosi comparando cultura de massa e cultura popular faz a seguinte análise;
O poder econômico expansivo dos meios de comunicação, parece ter abolido, em vários momentos e lugares, as manifestações da cultura popular, reduzindo-as para a função de folclore para turismo. Tal é a penetração de certos programas de rádio e TV junto às classes pobre, tal é a aparência de modernização que cobre a vida do povo em todo o território brasileiro, que à primeira vista, parece não ter sobrado mais nenhum espaço próprio para os modos de ser, de pensar e falar, em suma, viver, tradicional-populares...
A cultura de massa entra na casa do caboclo e do trabalhador de periferia ocupando-lhe as horas de lazer em que poderiam desenvolver uma forma criativa de auto-expressão: eis aí seu primeiro tento. Em outro plano, a cultura de massa aproveita-se dos aspectos diferenciados da vida popular e os explora sob a categoria de reportagem popularesca e turismo. O vampirsmo é assim duplo e crescente: destrói-se por dentro o tempo próprio da cultura popular e exibe-se para consumo do telespectador, o que restou desse tempo, no artesanato, nas festas, nos ritos (BOSI, 1992, p.328).
Percebe-se que, ao contrário da cultura popular que vai sendo tecida, por anos e anos, através do cotidiano e história de um povo, a cultura de massa é uma cultura imposta. Ela se dá com tanta velocidade e é tão fugaz que sem que se perceba ela se impõe e se estabelece, especialmente para o público mais jovem.
Como já citado, a cultura de massa se estabelece com a Indústria Cultural, que surge em resposta às mudanças ocorridas no século XIX, fruto do modelo capitalista monopolista que se iniciou no século XIX e se estabeleceu no século XX. Entre estas mudanças temos a criação dos grandes monopólios econômicos formando blocos resistentes à concorrência, à procura de mercado consumidor. Temos também o aumento da classe média, que necessitava ser direcionada antes que se organizasse e viesse a criar problemas, especialmente, para o Estado.
É na confluência desses fenômenos que se dá a necessidade de uma Indústria de Massa. Uma indústria que desenvolvesse basicamente duas funções: vendesse os produtos, acumulando riquezas para os conglomerados e ao mesmo tempo apascentasse a massa trabalhadora, através da ideologia. Fonseca ilustra bem o momento
Sob a ordem capitalista monopolista, ao contrário, o Estado deixa de ser apenas árbitro para adquirir um poder de intervenção maior nas relações sociais. Conforme Bolaño (2000), não apenas interfere no próprio conteúdo dos contratos, como se torna ele mesmo proprietário de empresas, transformando-se, nesse caso, num ente capitalista individual de pleno direito. O Estado passa, assim, a investir diretamente naqueles setores da economia que o capital privado não tem condições ou não tem interesse em investir.
Além da presença expressiva do Estado nas relações sociais que se constituem sob a etapa monopólica do capitalismo na virada do século XIX para o século XX, um outro aspecto merece atenção. Diz respeito à forma de constituição e manutenção de hegemonia nas relações tanto entre as classes sociais quanto entre as nações. Nesse processo, passa a ser fundamental o papel exercido pelas indústrias da comunicação e da cultura. (FONSECA, 2003, p. 311-312)
A partir daí, com advento de tecnologias mais eficazes, os meios de comunicação vão se desenvolver cada vez mais, se impondo como uma indústria ideológica e lucrativa. Aos poucos vai aumentando o interesse de investimento neste mercado, e este tipo de indústria vai se expandindo para o resto do mundo.
No Brasil irá se desenvolver da mesma maneira, porém somente a partir de meados do século XX, pois o capitalismo monopolista aqui será tardio. Portanto, as condições para o estabelecimento de indústrias acompanharão o tempo do capitalismo monopolista e do desenvolvimento da classe média, que se consolidará com o governo Kubitschek. Entretanto, este tema não será aqui discutido, ficando como sugestão para quem quiser se aprofundar mais.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ADORNO, Theodor W. Indústria Cultural e Sociedade. Editora Paz e Terra.São Paulo. 2002.
BOSI, Eclea. Cultura de massa e cultura popular. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
FADUL, Anamaria. Industria Cultural e Comunicação de Massa. Série Idéias n. 17. São Paulo: FDE, 1994. p. 53- 59.
FEDELI, Orlando. Cultura Popular e Cultura de Elite, cultura de massa. São Paulo: Associação Cultural Montfort, 2008.
FONSECA, Virginia P. S. Artigo: Indústrias Culturais e Capitalismo no Brasil.Em Questão, Porto Alegre, v. 9 , n . 2, p . 309-326, jul. /dez. 2003.
MELLO, Maurício de. O encontro da cultura popular e os meios de comunicação na obra de Solano Trindade: os anos em Embu das Artes (1961-1970). Dissertação de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Artes e Comunicação da Universidade de São Paulo. São Paulo. 2009.
TEIXEIRA COELHO. O que é Indústria Cultural. Editora brasiliense. 35ª edição, 1993.
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